Olá, olá!
Em homenagem ao Dias das Bruxas (ou Dia do Saci, você decide), o texto de hoje é sobre um assunto que aterroriza algumas pessoas: como ganhar dinheiro com arte e criatividade. É possível?
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Na semana passada fiz duas palestras e divulguei um podcast sobre Economia Criativa e pensei que isso poderia ser um tema legal para um texto.
Primeiro preciso dizer que a Economia Criativa salvou a minha vida. Antes eu era convidado para um evento/palestra/seminário/painel e não sabia bem se estava lá por que sou administrador por formação e analista técnico do Sebrae ou se por que sou roteirista de histórias em quadrinhos com alguma experiência em outras áreas de arte e cultura. Quando esse negócio surgiu, o primeiro benefício que recebi foi falar sobre as duas coisas ao mesmo tempo e isso fazer sentido... De forma bem resumida, falar sobre Economia Criativa é falar sobre a possibilidade de criatividade, arte e cultura gerarem alguma grana. Segunda a Ana Carla Fonseca, uma das maiores referências no assunto no mundo, “a economia criativa abrange todo o ambiente de negócios que existe em torno da indústria criativa, aquela baseada em bens e serviços criativos”.
Segundo o termo de referência do Sebrae, o conceito é bem amplo, indo desde museologia, passando por agências de design e editoras de literatura, até as startups, negócios inovadores com alto potencial de crescimento). Num texto muito bacana da Gisela Blanco, ela salienta que "tocar violão nas horas vagas ou fazer um filme com os amigos, apesar de atividades criativas, só vão fazer parte da economia criativa se alguém estiver lucrando diretamente com elas — ou pelo menos tentando". Vamos falar aqui sobre viver disso.
Deixando os conceitos acadêmicos de lado, a gente precisa começar pelo que é fazer arte, cultura ou qualquer outra atividade criativa no país: um exercício brutal de insistência. Isso por que 1) as pessoas não gostam de pagar por produtos culturais (ou tem isso como uma prioridade baixa na sua graninha mensal), 2) o brasileiro ainda vem se desvencilhando do preconceito da arte nacional (que vem lá da década de 50) e 3) uma série de outros problemas históricos, especialmente de educação. Como você já deve saber, eu amo consumir arte. Mas não acho fácil orientar alguém querendo empreender no meio. O jeito mais comum de se fazer arte no Brasil é conseguindo um emprego "convencional", o que garante uma certa segurança, enquanto no tempo livre você desenvolve a atividade artística. E eu tenho que dizer que isso pode ser um PÉSSIMO começo para um negócio nesse meio. Entendam bem, esse é o caminho que EU ESCOLHI. Mas desenvolver um empreendimento, seja em que segmento for, como hobby, na minha experiência, vem se mostrando um jeito muito lento de fazer um negócio dar certo. Isso quando dá certo.
Hobbies são coisas que gostamos de fazer. MASSA, você começou um negócio do jeito certo, fazendo algo que você gosta ou tem vocação. É uma das primeiras coisas que tento saber de uma pessoa que me conta que vai iniciar um negócio aqui no Sebrae. Mas hobbies são coisas que só se faz quando se sobra tempo pra fazer. E aí é que começa o problema. Negócios exigem dedicação, que se entre de cabeça no mundo deles. Um problema que tenho observado bastante com negócios que começam como hobbies é que eles não vão além disso. Acho bem válido que um negócio comece, sim, no tempo livre, até que o empreendedor entenda que ele é viável e que é o momento de imergir nele. Existe até uma expressão no meio das startups pra isso: leap of faith (que literalmente seria o "salto de fé", quando você arruma coragem para abandonar seu emprego "seguro" e se dedica a sua ideia inovadora). Mas é bom sempre se questionar se tendo um emprego em tempo integral você irá conseguir, só pra citar um exemplo, buscar novos serviços ou clientes.
Outra coisa a se pensar é transformar um hobby em trabalho. Um hobby é algo que se faz durante aquele período de ócio criativo, quando se quer esquecer a mecanicidade (acho que essa palavra nem existe, mas você entendeu) da vida real. Aí você decide oferecer aquele seu serviço de desenhista. Aparecem clientes. Aparecem prazos. Aparecem burocracias. E quando você menos se dá conta está achando tão chato desenhar quanto qualquer outro trabalho que já teve. E isso já aconteceu comigo em alguns serviços pagos de quadrinhos. Muito se fala sobre trabalhar com o que se gosta. Muita gente fantasia a respeito e cria grandes expectativas. A verdade é que se sujeitar a um mercado, seja do que for, vai implicar em responsabilidades. E, na boa, tem muita gente pensando que essa coisa de fazer arte ainda é coisa de boêmio, que só precisa se preocupar em criar. Mas tá difícil juntar boemia e grana hoje em dia, como recentemente discuti com o escritor Eneias Tavares no podcast Bestiário Criativo.
Tem ainda a questão "autoral x comercial". Eu sei que este papo de pensar arte comercialmente é um saco pra muita gente. Eu também acredito que a arte tem que ser livre de amarras e distante das esteiras industriais. Que se o artista quiser ele pode fazer aquilo só pra ele, sem se preocupar se alguém vai pagar por aquilo. Boa parte da arte de vanguarda surge assim. Pesquisa aí quando o Van Gogh começou a ganhar dinheiro com seus quadros e você vai descobrir que foi depois que ele morreu (por isso que eu choro quando assisto aquele episódio com ele do Doctor Who). Se seu objetivo é a arte pela arte, maravilha, este texto talvez não sirva pra você. E você não é um artista pior por isso (você é até uma figura necessária no meio). Agora se você quer ser músico aqui no Ceará o caminho mais indicado seria montar uma banda de forró. Mas o que fazer quando você quer tocar heavy metal? Ceder à pressão comercial para viver de música? A resposta vai estar em cada um. Quanto mais longe do comercial, mais tortuoso é o caminho, essa é a verdade. Mas não falo isso pra fazer ninguém desistir. O que ser mais autoral vai exigir do empreendedor criativo é mais planejamento. O que nos leva ao último ponto.
Mas por onde começar? Eu não faço distinção de um negócio de Economia Criativa de outro tradicional na hora de imaginar o início da atividade. No Sebrae indicamos duas ferramentas para abrir os horizontes: o Plano de Negócios e o Canvas.
O Plano de Negócios é uma coisa mais tradicional, indicada quando aquele empreendimento que você está começando é mais comum, ou seja, você está entrando num mercado conhecido (ou mais comercial, como é o caso da banda de forró já citada). É quando já existe bastante informação por aí sobre como ganhar dinheiro com sua atividade criativa. Você vai cair de cabeça neste mercado, entendendo tudinho dele primeiro, e jogar as informações neste documento. O Plano de Negócios é complexo e o Sebrae dispõe de algumas ferramentas para ajudar a fazer um (indico o curso online Iniciando um Pequeno Grande Negócio).
Já o Canvas é uma ferramenta indicada para negócios que são mais inovadores, ou que são menos comuns no mercado. Ele é bem mais simples de se usar, mas serve apenas para modelar o que você vai fazer, no sentido de ajudar você a enxergar melhor como vai ganhar dinheiro com aquilo (e outras nuances do negócio). O melhor lugar para aprender sobre o Canvas é o livro Business Model Generation - Inovação em Modelos de Negócios, dos autores Alexander Osterwalder e Yves Pigneur. O livro é tão bacana que podia muito bem ser uma das indicações que eu costumo dar aqui. Visualmente ele é lindo e o conteúdo, então, nem se fala. Ele mostra técnicas desde modelar o negócio até a hora de apresentá-lo para outras pessoas (incluindo um tal de storytelling, que eu ainda volto aqui pra falar um dia).
Enfim, o importante é começar e se planejar. Sempre li todos os manuais de roteiro e me preocupei com o FAZER da coisa. Não sei se por ser aluno do curso de Administração na época, mas quando comecei a fazer quadrinhos outra preocupação que tive foi entender o mercado para o autor nacional (mesmo ele sendo minúsculo na época). Participava de fóruns, acompanhava editores e formadores de opinião nas redes sociais, concorria em todas as coletâneas e premiações e ia para todos os eventos possíveis. Produzir é uma das coisas mais prazerosas (e importantes) do processo. Mas pra fazer parte desta brincadeira difícil que se tornou fazer arte no Brasil você precisa se informar.
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- Como divulgado no início do texto, gravei um episódio do Bestiário Cast com o meu amigo Enéias Tavares, escritor do ótimo A lição de anatomia do temível Dr. Louison. Acho que o papo era pra ser uma entrevista comigo, mas virou um apanhado de percepções sobre o mercado de entretenimento no Brasil. Para quem se interessa sobre Economia Criativa, recomendo.
- Saiu na semana passada um podcast Sem Fim (formato mais descompromissado do Iradex) com minha participação. Eu queria dizer qual é a pauta, mas a proposta é não ter pauta. Escute por sua conta e risco.
1 comentários:
Eu adorei a matéria é o assunto! Parabéns! Esse conteúdo é bem abrangente e totalmente interessante!
Muito obrigado por sua valiosa atenção Zé Wellington; grande abraço
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